terça-feira, 7 de julho de 2009

DEPOIMENTO DE UM CORÔA SOLITÁRIO

Ontem, no interior do coletivo que me transportava para casa, do centro vindo, um curioso fato se deu. Uma menina de seus 13 anos, levantou-se da cadeira e ma ofereceu para sentar num gesto de extrema delicadeza.Pensei comigo mesmo: "É a velhice chegando!" Como ia descer na parada próxima, recusei, e a pequena bailarina ocupou a cadeira novamente, diante de uma nova recusa por parte de uma senhora idosa.
Não tem jeito, não há como fugir da realidade: a chegada das rugas, da gaguice e dos cabelos brancos é um fato. Todos havemos de passar por isso, se o pavio da vida não for cortado nas iniciais idades. Poupando-me de análises profundas sobre a "minha" idade, quero apenas dizer que não temo a velhice, até a recebo de mente elevada e de bom espírito. E para ir mais além, ouso dizer que é nela que eu me sinto realizado plenamente, construindo meu legado final - o triunfo do espírito sobre a matéria, da vida sobre a morte.
Já faz um bom tempo que eu moro sozinho. Vez por outra ia visitar minha mãe, que morava igualmente só no outro lado da rua. Morei com ela até os quarenta anos de idade, quando resolvi alugar um pequeno apartamento e optar de vez pela vida reclusa. Mas de maneira nenhuma eu me considero uma pessôa solitária, muito pelo contrário pois vivo cercado de muita coisa boa e tenho meus propósitos de vida, meus objetivos.No plano sentimental ( outro diria vida conjugal ) minha vida foi um desastre completo. Casar nunca deu certo , e apesar de ter vivido e convivido com inúmeras mulheres - e dá-lhes, Martinho da Vila! -hoje é um fato consumado que eu não quero compromisso com ninguém. Só não sou de caráter misógino, mas a Natureza e o Criador me dotaram ao longo dos anos de uma incrível capacidade para o silêncio e a contemplação, e isso não são coisas que se adquire num ambiente familiar, ou mesmo de interações de amizade.
Acima de tudo, eu acho que o importante é estarmos felizes - seja casado ou solteiro, vivendo só ou acompanhado - e sendo hoje um cidadão comum, cinquentão e solitário, vislumbro esta primeira velhice com as maiores das aspirações, mas sempre medindo os prós e os contras, as verdades e as mentiras. O passado se torna uma escola de ensinamentos e o futuro é como um porto que sabemos vamos atingir com firmesa e segurança. Não importam as procelas desta vida.

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